narrativas sonoras
desenhos, azulejos e vídeos
Porto - Portugal
2022/2023
Cemitério Lapa
Parque Covelo
Praia Matosinho
O projeto Narrativas Sonoras partiu de uma vontade de conhecer os espaços públicos na cidade do Porto, utilizando o som e o desenho cego como meios de investigação. O desenho cego, uma técnica em que não se vê o papel nem o traço que está fazendo, onde também adotei a ideia de não ver o que estava diante de mim, apenas escutar.
Inicialmente, os desenhos foram feitos em papel sulfite, com uma abordagem simples em preto e branco. Esses desenhos nem sempre eram esteticamente agradáveis ou expressivos, mas carregavam um significado pessoal para mim, pois me conectaram de outra forma com aqueles diversos espaços que ainda não me eram familiares. Ao refletir sobre o valor atribuído à imagem na nossa cultura, me questionei como poderia menosprezar essas imagens ‘’simples’’ que me conectava com os lugares e me faziam sentir parte deles. Foi então que eu decidi compartilhar esses desenhos de maneira irônica em uma plataforma visual e colorida como o Instagram, que é frequentemente usada para criar narrativas visuais de lugares “perfeitos”. A minha vontade era desconstruir para mim mesma as expectativas em torno de um lugar perfeito, uma imagem nítida e ao mesmo tempo criticar uma sociedade excessivamente focada na aparência visual.
Além dos desenhos em papel, o projeto também se estendeu aos azulejos. Ao observar diariamente os azulejos nas fachadas da cidade do Porto, tão tradicionais da cultura portuguesa, muitos utilizados para contar histórias de conquistas territoriais e temas religiosos. Ao observar esse cenário, tive vontade de contar outras histórias, assim como valorizar a ideia da escuta. E por tanto iniciei os desenhos nos azulejos como uma forma de criar outras narrativas significativas, expandindo a percepção dos lugares e das histórias que emergiram a partir dos desenhos e da escuta realizados no projeto.
Realizei uma série de azulejos com sons simbólicos da cidade do Porto, que criei a partir da escuta com meu corpo por aquela cidade. Tive vontade de devolver essas peças para as fachadas dos prédios e ruas, no entanto precisei antecipar minha volta para a cidade de São Paulo e trouxe esses azulejos comigo e junto com eles o desejo inviável fisicamente de poder morar nas duas cidades. Diante da vontade de poder estar nos dois lugares, e sabendo que o som nos conecta, como pude perceber no projeto Paisagem de Escuta discutido anteriormente, resolvi instalar os azulejos da paisagem sonora do Porto em São Paulo como uma forma simbólica de me manter conectada ao Porto. A escolha foi um muro que faz fronteira com o Museu da imigração de São Paulo e a ferrovia. É um lugar de passagem, de chegada e partidas, um lugar que conecta e que traz memórias.
O projeto seguirá futuramente levando os sons e a escuta de São Paulo para o Porto. Pensar nessa intervenção, que utiliza elementos construtivos associados à ideia de escuta me fez pensar também sobre a construção da relação desses dois países que poderia se reinventar e a partir da premissa da escuta.



Campos 24 de Agosto

