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Exposição 
montra em execução - soMos

Exposição

Universidade do Porto - Portugal

2022

vídeos - Tamires Garcia

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A performance se trata de uma exposição laboratorial realizada na Faculdade de Belas Artes no Porto em novembro/dezembro de 2022, onde durante uma semana eu poderia testar minhas inquietações relacionados a minha investigação de mestrado que está relacionada ao tema da escuta. Decidi por fazer a performance do projeto SOMOS que já estava em andamento na cidade do Porto, em que durante meus percursos diários eu realizo meus exercícios da escuta pela cidade e escrevo na minha roupa, nesses percursos, muitas vezes me deparo com lugares e pessoas desconhecidas.

 

Ao realizar essa performance pela segunda vez, mas agora em um novo local que era familiar para mim, foi uma experiência diferente. A FBAUP é um ambiente que eu visito diariamente em que conheço muitas as pessoas, e isso meu deixou um pouco mais tímida, talvez mais constrangida em relação a versão SOMOS pela cidade do Porto. O sentimento que eu tinha era que eu não queria ser percebida ao mesmo que tempo em que queria perceber o outro.

 

Talvez isso também tenha influenciado na escolha do figurino, em que optei por uma camisa branca, ao invés do vestido. Queria algo que chamasse menos atenção e que também pudesse ser vestido e tirado de forma rápida e natural (já que faria diversas vezes ao longo daquela semana).

 

Em um primeiro momento tive dificuldade de ouvir, de distinguir os sons, os sons se misturavam e me atravessavam ao mesmo tempo, principalmente em ambientes menores como a lanchonete. Ali apesar de um ambiente mais intimista e que favorecia o volume do som se encontravam muitas vozes e ruídos... Fiquei um pouco incomoda, pois achei que não ia funcionar o exercício da escuta, que não ia conseguir incorporá-lo.

 

Mas a medida em que eu conseguia transformar o som em palavra, mesmo que mais lentamente, sentia que me conectava com o outro e com o espaço, e isso ia me dando um certo alívio, que depois eu entendi que era um sentimento sobre me perceber mais presente, e à medida que me sentia mais presente, me sentia menos ruidosa e ao mesmo tempo mais invisível.

 

Essa presença, me fez sentir toda a paisagem que eu estava, me retirando de fora e me colocando dentro. Caminhava, sentava, deitava, subia e descia escadas esses eram movimentos que me traçavam na paisagem. Se em um primeiro momento me senti não pertencente, a escuta me trouxe ali horizontalidade nas coisas que eu estava vivenciando naquele tempo e espaço.

 

O fato de fazer esse exercício durante alguns dias seguidos, me fez me dissolver ainda mais naquele espaço que já habitava. Se antes me sentia parte dali pela rotina de ir diariamente estudar, agora me sentia parte pelo ato da escuta. Parece que tudo ficou mais nítido para mim: a matéria, os gestos, o cotidiano, as vozes, os encontros, os sentimentos, a arquitetura, os cheios os vazios, as bordas...

 

Durante o exercício eu gostava de escutar palavras repetidas e repetias ela na escrita. Gostava também de perceber o português, português. Os ruídos que não me deixavam perceber as vozes (e que muitas vezes eram as próprias vozes) eu escrevia de forma escalonada no meu corpo, ou escrevia várias vezes para enfatizar meu incomodo. Havia ali uma tentativa inicial minha de achar um fio condutor entre as conversas, algo que depois pudesse formar um conjunto de palavras com significados. Mas percebia que isso era um julgamento que me fazia desconectar do gesto de ouvir. Quando colocava essa intenção de lado percebia que outros campos de abriam...e que os sons juntos que me traziam mais, e outros significados, talvez menos racionais, menos óbvios. A minha única certeza ali era a presença.

 

A partir daí, fui em busca de sutilizas, como por exemplo quando subi na biblioteca, onde as vozes estão silenciadas, e ouvi o barulho da digitação, o click do mouse, os gestos de uma rotina sempre presente daquele lugar. Teve um momento em que eu literalmente percebi a presença do ar.

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